quinta-feira, 30 de julho de 2009

Cidadania é ...

Já não me recordo de onde copiei essa definição abaixo, mas acabo de encontrá-la numa pequena folha de apontamentos, já com ar algo usado, dentro da minha carteira - talvez nessas leituras de sala de espera de médico, ou outros lugares de pré-tortura (quando a espera não é a maior tortura). Seja como for, achei que ela define muito bem o significado do termo cidadania. Aqui vai:

«Cidadania é o estado pleno de conscientização dos deveres e direitos do cidadão, e das suas possibilidades de desenvolvimento como membro de uma comunidade».

Um dos aspectos importantes dessa definição é a questão dos deveres. Muita gente vive procurando seus direitos, mas esquece seus deveres. A busca individualista e, por isso, doentia, dos direitos acaba virando até abuso e, tanto que pretende cidadania, perverte a própria cidadania.

Como se costuma dizer, a minha liberdade termina onde começa a liberdade do outro. Talvez a palavra-chave da cidadania seja mesmo "reciprocidade" em nível consciente, ou seja, sentido de reciprocidade. Porque não existe cidadania individual. Com efeito, eu sou o outro além de mim mesmo. O outro está em mim; e a única coisa que o outro não tem de mim é minha própria consciência; de tal modo que, para fazer com que o outro entenda aspectos da minha consciência, eu tenho forçosamente que dialogar com ele - logo, reciprocidade, que é um dos aspectos da linguagem, em suas características básicas de mensagem e feedback, e assim por diante.

Daí se entende cidadania, igualmente, como uma rede de comunicação entre seres mais ou menos conscientes do todo em que se encontram. Mas essa seria outra conversa.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Nota à margem: Príncipes e filósofos

No meu artigo no jornal Notisul de 23 de julho, Pé da serra: traço de união ou linha de fronteira?, fiz uma referência de memória a um trecho de Platão, que vale a pena citar na íntegra. Trata-se um fragmento do Livro V de “A República”, que estou traduzindo da edição inglesa de 1871, de Benjamin Jowett*. No Livro V, o diálogo passa-se entre Sócrates, Glaucon e Adeimantus, e nosso trecho, naturalmente, repete a fala de Sócrates, mestre de Platão:

"Enquanto os filósofos não forem reis, ou os reis e príncipes deste mundo não tiverem o espírito e o poder da filosofia, e a grandeza política não se fundir com a sabedoria; e enquanto os de natureza vulgar que perseguem os demais para excluí-los não forem obrigados a afastar-se, nem as cidades nem a raça humana – assim acredito – terão descanso de seus males; só nesse momento o nosso Estado terá uma possibilidade de vida e de contemplar a luz do dia."

Do mesmo modo, referi nesse mesmo artigo que o termo “academia” se deve a Platão, o que é verdade pelo uso da palavra, embora ele já existisse anteriormente, porque se trata de um local: Akademia era o nome de um santuário, a norte da cidade de Atenas, consagrado à deusa da sabedoria: Atena. Foi nesse local que, cerca de 385 a.C., segundo se pensa, o grande sábio implantou sua escola filosófica, dedicada à busca do saber e das formas mais elevadas do conhecimento, que, por esse motivo, passou da contemporaneidade platônica para a História com o nome de Academia.


(*) Until philosophers are kings, or the kings and princes of this world have the spirit and power of philosophy, and political greatness and wisdom meet in one, and those commoner natures who pursue either to the exclusion of the other are compelled to stand aside, cities will never have rest from their evils, - nor the human race, as I believe, - and then only will this our State have a possibility of life and behold the light of day.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Artigo no jornal NOTISUL - Pé da serra: traço de união ou linha de fronteira?

Alberto Vieira da Silva

E
xiste um acervo importante de lições da História universal, amplamente ensinadas nas universidades, mas nem sempre aprendidas pela classe política. Platão desejava que os príncipes fossem filósofos e que os filósofos fossem príncipes, sem o que – escrevia o grande gênio, ao qual se deve o termo “academia” – não terminariam os males das cidades. No caso, interessa o que poderíamos aprender, aqui no sul catarinense, sobre fragmentação administrativa ou política de uma dada região; antes, porém, é importante enquadrar o tema do presente artigo de opinião.

Leia mais em »»

1ª parte: Jornal Notisul de 23-07-2009 - Opinião do Leitor, pág. 14
2ª parte:
Jornal Notisul de 24-07-2009 - Opinião do Leitor, pág. 14
3ª parte: Jornal Notisul de 06-08-2009 - Opinião do Leitor, pág. 12
4ª parte: Jornal Notisul de 07-08-2009 - Opinião do Leitor, pág. 12